sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Impunidade até quando?

O assassino da cabeleireira Maria Islaine ficou calado durante o depoimento na tarde desta sexta, em Belo Horizonte. Ele está preso desde quinta e isolado de outros detentos.

O assassino saiu da delegacia acompanhado do advogado e de vários policiais. Sem demonstrar preocupação, Fábio William da Silva Soares ainda deu um sorriso. Na porta da cadeia, ele encontrou a irmã. “Eu te amo, torço por você, cara. Eu te amo”.

Segundo a polícia, Fábio disse que só vai depor em juízo, mas, informalmente, ele teria contado o que motivou o crime.

“Parece que foi mesmo questão de ciúmes. A vítima teria iniciado um novo relacionamento e isso aumentou também a ira do investigado e também a divisão do apartamento”.

A perícia recolheu as imagens do assassinato, gravadas pelas câmeras do salão de beleza da ex-mulher, Maria Islaine de Morais. O borracheiro disparou nove tiros. A arma ainda não foi encontrada.
MG: assassino e ex-marido de cabeleireira é preso
Maria Islaine de Morais, 31 anos, morreu assassinada depois de denunciar oito vezes as agressões e ameaças de morte do ex-marido.

Foi preso na cidade de Biquinhas, em Minas Gerais, o assassino e ex-marido da cabeleireira Maria Islaine. A vítima tinha registrado na polícia oito ameaças do criminoso.

O crime provocou indignação no país todo e voltou a chamar a atenção para uma situação enfrentada por muitas outras brasileiras.

- Por que você procurou a polícia e chegou a esse ponto de pedir proteção?
- Porque eu fui agredida. Ele começou a me bater no meio da rua, começou a me chutar, me jogou contra um poste e falava que ia me matar.

O homem de quem ela fala é o ex-marido, usuário de crack, que não aceita a separação. Ela é uma mulher que não pode se identificar porque tem medo.

Entre tantas brasileiras que procuram a Justiça para se proteger da violência do homem, uma outra buscou ajuda. Foi à delegacia, em Belo Horizonte, para denunciar as agressões e ameaças de morte do ex-marido. Fez isso oito vezes. Essa mulher foi enterrada nesta quinta.

Maria Islaine de Morais, 31 anos, morreu assassinada. Instalou câmeras no salão onde trabalhava para tentar intimidar o ex-marido, Fábio William da Silva Soares, de 30 anos. Ficaram as imagens de quando ele entra armado e, covardemente, começa a disparar. Foram nove tiros, segundo a perícia. Pela lei, Fábio estava proibido de se aproximar de Islaine.

Além de ir à delegacia, Maria Islaine, por telefone, pediu ajuda, como mostra esta gravação. “Meu nome é Maria Islaine. Eu tenho uma intimação que a juíza expediu por que meu marido me agrediu. Eu o levei na lei Maria da Penha. Ele era pra ser expulso de casa, o oficial veio, tirou ele de casa, só que ele está aqui em casa e está me ameaçando”.

Por não cumprir a determinação do juiz, a prisão preventiva de Fábio Wiliam chegou a ser pedida por três vezes em julho, setembro e outubro do ano passado


“Houve falhas, precisam ser investigadas. Nós da secretaria já estamos tomando as providências para saber onde houve a falha: se foi da segurança pública, do Ministério Público ou do juizado”, disse Aparecida Gonçalves, da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres.

Nossa reportagem teve acesso a outra gravação feita por Islaine, anexada ao inquérito policial. Nela, a ameaça do ex-marido é clara.

“Eu não vou aceitar perder minha casa. Se eu perder, você vai para debaixo da terra. Está decidido isso. Já não vou trabalhar mais. Vou tocar uma vida de vagabundo. Se eu perder minha casa, eu vou te matar”.



Fabio William foi indiciado por homicídio. A polícia tem 10 dias para ouvir as testemunhas e reunir as provas. A conclusão do inquérito deve apontar duas qualificações que agravam a pena em caso de condenação: motivação fútil e impossibilidade defesa da vítima.

Fábio estava proibido de se aproximar da ex-mulher. Por não cumprir a determinação do juiz, a prisão preventiva foi pedida, por três vezes. O advogado de defesa Ércio Quaresma acredita que a medida poderia ter evitado o assassinato.

“Nós temos uma situação hoje em que, aspas, crimes de menor potencial ofensivo são alvo de descaso absoluto”.

Logo depois da prisão, um policial perguntou a Fábio o que ele sentia sobre o crime. "Está arrependido?”. O borracheiro espera um pouco e responde: “Não sei".